EAD

Postado: 22/05/2020

A Direção do SINTUR-RJ, em reunião virtual, avaliou a proposta de EaD (Ensino a Distância) ou  Ensino Remoto Emergencial, conforme apresentada no CEPE  e  Conselho Universitário, tendo  claro que as instituições que integram a Rede Federal desempenham importância fundamental na socialização de um processo educativo que se pretende voltado para a formação integrada e  omnilateral. 
 
Para além da referida socialização interna às nossas instituições, que objetivamente tende a ser rompida e anulada internamente mediante o sacrifício da educação presencial em favor da implementação da EaD, entendemos que a adoção a EaD impede que essa experiência de socialização educativa se constitua em referência nas lutas por educação pública, gratuita, de qualidade, integrada, laica e socialmente referenciada.
 
Ainda sobre o tema relacionado ao comprometimento da oferta de curso em EaD de forma inclusiva e de qualidade, trazemos para a equação a diversidade que compõe o quadro de alunos(as) da UFRRJ.
 
Para os (as) alunos (as) que se encontra em situação de vulnerabilidade social, ademais da apreensão gerada pela suspensão das aulas, somam-se as possibilidades de não conseguirem sustento - seja por ocasião de eventual desemprego deles e de seus familiares, seja por terem que cuidar de familiares doentes - e de estarem em ambientes domésticos marcados por conflitos diversos.
 
Some-se a isso o fato de que muitos (as) alunos (as) não possuem computador ou mesmo acesso a uma internet de qualidade em suas casas, ainda que possuam celulares – aparelhos inadequados para a utilização das plataformas de EaD –, o que representa uma flagrante precariedade de condições materiais de estudo para um grande número de estudantes.
 
Enfatizamos a necessidade dos(as) alunos(as) que se encontram em condições socioeconômicas mais favoráveis se solidarizarem com os colegas que não possuem acesso à tecnologia e/ou que não possuem condições adequadas ao ambiente de estudo. 
 
É necessário que a contraposição às pressões de muitos(as) alunos(as) para a retomada das atividades “a qualquer custo”, o mais rapidamente possível, seja realizada com base na recusa de deixar “alguns para trás” em favor do seu desempenho acadêmico particular. Nessa questão, devemos caminhar juntos, sem nenhum estudante a menos.
 
A reiteração da condição de instituições inclusivas demanda compreender que o ensino presencial é insubstituível e que qualquer ação emergencial que utilize ferramentas digitais em larga medida excluirá parte dos estudantes e poderá acarretar processos nefastos como trancamentos de matrículas, reprovações e abandono de cursos , processos que tendem a ser agravados quando se considera os estudantes com diferentes necessidades específicas de aprendizagem. 
 
Assim, iniciativas apressadas na direção da EaD podem amplificar discriminações e quebrar um dos princípios fundantes das nossas instituições: a educação inclusiva contextualizada, ofertada sob uma diversidade de níveis e modalidades.
 
As dificuldades para a oferta de EaD também se apresentam do lado dos(as) servidores(as) técnico-administrativos(as) e docentes. 
 
Muitos(as) servidores(as) moram em localidades e regiões sem acesso à internet, outros(as) tantos(as), no atual contexto de isolamento social, estão envolvidos(as) com dedicação quase exclusiva aos cuidados de familiares doentes, idosos e de crianças pequenas. 
 
Nossa universidade, até onde sabemos, também não possuem levantamento de dados acerca da realidade desses(as) servidores(as) e das reais condições de desenvolvimento de ensino de maneira remota. 
 
Temos a compreensão de que o uso das novas tecnologias é fundamental nos dias de hoje e que pode dinamizar diversas ações educacionais. 
 
Todavia, não podemos mistificar e fetichizar a EaD ou as “atividades remotas” como a solução para uma educação e ensino que se pretende público, gratuito, de qualidade, integrado, laico e socialmente referenciado, sob contexto de crise, uma vez que a maioria dos cursos oferecidos pela universidade não foi planejado para ser oferecido nesta modalidade. 
 
Dessa forma, inferimos que o processo de ensino-aprendizagem nos cursos planejados para a oferta presencial, não se efetivará adequadamente uma vez que a transposição didática não se concretizará meramente pela ação do professor adotar a prática do envio de atividades por e-mail ou moodle, haja vista os(as) alunos(as) não terem a preparação necessária, experiência e, muitas vezes, maturidade para tais atividades.
 
Inicialmente nossa posição é contrária à substituição das atividades presenciais por atividades EaD por compreendermos que incentivar/impulsionar a EaD fora de projetos pedagógicos, ainda que concebidos como soluções emergenciais e temporárias, concorre, objetivamente, para um grande retrocesso, posto que medidas sob contexto e circunstâncias extraordinárias geralmente se transformam no “novo normal” (em especial sob o contexto de vigência de políticas do Governo Federal/MEC para a Educação, caracterizadas por privatização direta e indireta, cortes de recursos orçamentários, entrega das Instituições Federais de Ensino Superior ao grande capital, reiteração da dualidade estrutural da educação brasileira e generalização do Ensino a Distância.).
 
Diante disso, precisamos redobrar atenção e ampliar o debate democrático e crítico acerca da realidade política e educacional do país, da Rede Federal e da nossa universidade, posto que, para além do calendário acadêmico, está em disputa a função social das nossas instituições, o seu caráter público, a educação como políticas sociais inclusivas, integradas e de qualidade, bem como o sentido do trabalho dos(as) servidores(as) técnico-administrativos(as) e docentes. 
 
Contudo, faz-se necessário destacar que a ação de redobrar a atenção e ampliação do debate ora referido tem que servir à luta de resistência contra a política regressista em curso no país, e na educação em particular, culminando na sua derrota.
 
Precisamos que se tenha um diagnóstico detalhado da situação dos servidores e alunos antes que se tome qualquer decisão sobre implementação de atividades remotas. 
 
Esse diagnóstico pode ser feito perante o uso de questionários online que abordem condições de saúde do respondente e dos membros familiares, condições de acesso à internet, familiaridade com o uso de tecnologia, condições econômicas, etc. 
 
Isto  deve preceder a qualquer proposta de Ensino Remoto, por mais que seja considerado emergencial. 
 
Reiteramos que não podemos pressupor que o aluno que optou por curso presencial, em detrimento de curso EAD (alguns, inclusive, oferecidos pela UFRRJ pelo consórcio CEDERJ), tenha recursos e preparo para conduzir os estudos na modalidade a distância. 
 
Entretanto, se após ampla análise ambiental e debate, a comunidade acadêmica tiver acordo pela implementação de atividades remotas, defendemos a oferta apenas de disciplinas optativas e/ou eletivas. 
 
Deixando o professor à vontade para decidir pela aplicação dessa modalidade de ensino, bem como deixando o aluno à vontade para decidir pela absorção desse ensino ou não, sem prejuízo da oferta presencial de tais disciplinas, no pós quarentena.
 
Por último, avaliamos que neste momento a prioridade deve ser a defesa da vida, destacando o papel fundamental que as universidades públicas estão desempenhando ativamente.

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