Dia do Orgulho LGBTI

Postado: 28/06/2017

Embora muitos anos já tenham se passado, a realidade de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e pessoas intersex (LGBTTI), ainda é marcada por dor, sofrimento, rejeição, mas também por muita luta. Uma batalha diária para obter respeito e voz ativa em uma sociedade repleta de "modernismo", mas que carrega em suas entranhas um preconceito arcaico e totalmente "fora de modo" para os padrões do século XXI.

Em meio a tantas histórias terríveis de preconceito contra os LGBTTI’s queremos relatar histórias de pessoas vitoriosas que se libertaram da prisão que a sociedade os colocou e hoje sentem-se mais a vontade para vivenciar seus relacionamentos afetivos.

Selecionamos três histórias, coincidentemente semelhantes, de pessoas que integram as categorias da comunidade acadêmica da UFRRJ - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Antecipo que os relatos apresentados abaixo não contrastam com a ampla realidade da população LGBTI. O intuito é demonstrar que independente da orientação sexual de cada pessoa, cada um tem o direito de ocupar o espaço que desejar e da maneira que lhe convém.

 

Um aliado na luta 

Dan Gabriel D'Onofre, 27 anos, está como primeiro Tesoureiro da ADUR-RJ e professor no curso de Hotelaria. Doutorando em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA); Mestre em Desenvolvimento Rural (UFRGS); Turismológo pela UNIRIO e; Técnico em Agropecuária Orgânica (CTUR).

Sua mãe, dona casa e ex-empregada doméstica e seu pai, estofador, Dan Gabriel é da cidade de Carmo, região Serrana do Rio de Janeiro. Criado com base na doutrina da igreja protestante, com pais religiosos, a homossexualidade não era falada em casa e nem na escola.

Durante toda a sua adolescência, Dan relutou em revelar sua orientação sexual, com receio da reação da família e por conta da "condenação ao inferno", segundo o Turismológo. Até seus 21 anos, já no mestrado, relacionou-se com mulheres e escondeu seu interesse por homens. Segundo o próprio Dan Gabriel D'Onofre a sua vida mudou quando ele entendeu "quem  era em relação a sua sexualidade".

Para ele a falta de diálogo sobre a homossexualidade nos ambientes em que frequentava foi um grande agravante. Somente no mestrado ouve o entendimento acerca de sua orientação sexual. Até então, a vida era vista com dureza e após a sua aceitação seu olhar  se tornou mais leve.

"Eu estava no mestrado, na época namorava uma garota, foi muito difícil por fim ao relacionamento, ela era uma ótima pessoa, mas não era possível corresponde-lá da maneira que ela merecia", diz.

Após o término do relacionamento, Dan Gabriel ficou um período sem manter nenhum relacionamento até decidir assumir ser homossexual.

Seus pais, ao contrário da maioria, aceitaram a orientação do filho. De acordo com Dan, assumir sua homossexualidade foi libertador, mas sua luta por respeito é diária, embora não tenha sofrido preconceito no seu local de trabalho, a universidade. O professor de Hotelaria se define como um aliado na luta pelos direitos dos LGBTTS.

 

Em sua avaliação, Dan Gabriel diz que “não sofro preconceitos em meu ambiente de trabalho por conta dos  privilégios em ser branco, letrado, me poupa de algumas formas de preconceito”, diz o professor.

 

“A gente tem sentimento, a gente ama”

 

Rivadalva Nunes, há 21 anos atua como secretária no Sintur-RJ (Sindicato dos Trabalhadores em Educação na UFRRJ).

Mulher cristã e lésbica, Rivadalva carrega sobre si o peso de viver em uma sociedade com raízes machistas e homofôbica.  Embora podada em anos de luta de pessoas que reivindicam seu lugar de direito na sociedade, o preconceito é tão profundo e arraigado que suas raízes renascem e permeiam por todos os lados.

Desde sua juventude, Rivadalva percebeu seu interesse por outras mulheres, “aos meus 17 anos eu estava na escola conversando com uma amiga e quando me dei conta me imaginei beijando-a, mas recolhi esse pensamento”.

Porém, os pilares religiosos que sempre acompanharam a sua vida  acabaram por aumentar o conflito já existente. O tormento de viver com a ideia de estar “condenada ao inferno” silenciou-a por muitos anos encobrindo  seu brilho de viver.

No convívio familiar, a homossexualidade nunca foi discutida, embora já revelasse traços de sua orientação sexual. Somente após muitos anos e de maneira gradativa Rivadalva assumiu sua orientação sexual e de acordo com a própria “encontrou a paz que procurava ao ser acolhida pela Igreja Cristã Contemporânea”. Após a desconstrução das ideias que tanto a atormentavam, hoje ela vive plenamente a sua fé. Sua luta contínua para se impor como mulher e lésbica na sociedade.

 

 O diferente nos move

 

Thiago de Oliveira Oliboni de Jesus, 27 anos, Bancário. Formado em Ciências Contábeis pela Estácio e Administração na UFRRJ.

Ao contrário de muitos jovens que relutam em se assumir homossexual. Segundo ele "ser gay sempre foi algo muito fácil; o difícil, é entender o motivo de tanta revolta contra os homossexuais", diz Thiago Oliboni.

O bancário conta que desde a infância sua relação com o mundo sempre foi "colorida". "Eu via o mundo de outra forma", conta Thiago.

Apesar de sua naturalidade em aceitar-se gay desde muito cedo, o convívio familiar foi difícil. Segundo ele, o pai se mostrou bem relutante em aceitar quem Thiago era de fato. Após muitos anos de luta, a convivência se tornou "a coisa mais linda do mundo", de acordo com as palavras de Oliboni.

Enquanto na vida profissional, o bancário conta que ao se sentir diferente, entendia que deveria fazer o seu melhor em tudo. "Perdi noites de sono estudando e sempre querendo me destacar e ser visto não pelo 'gay', mas por alguém que supera as expectativas".

Apesar de sua ampla formação, o bancário revela que em sua vida profissional já perdeu oportunidades de emprego porque na visão dos contratantes 'seu perfil não era condizente com o da empresa'. "Um perfil que não pode ser descoberto, mas apenas encoberto", diz Oliboni.

Thiago se considera realizado profissionalmente. "Hoje me realizei profissionalmente, sou bancário e atuo com muito orgulho na minha profissão", diz.

O bem-sucedido Thiago de Oliveira Oliboni de Jesus se considera uma pessoa "feliz, amada, sonhadora e acima de tudo agradecido por não ser igual. Pois, nessa vida tão passageira o diferente nos move, não é mesmo?

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